quinta-feira, 14 de agosto de 2008

EXPULSOS DA CORPORAÇÃO


EXPULSOS DA CORPORAÇÃO


O governador do Estado do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, declarou hoje publicamente que os PMs envolvidos na morte do menino João Roberto Soares, de 3 anos, serão expulsos da corporação. O cabo William de Paula e o soldado Elias Gonçalves atiraram acidentalmente no carro em que estavam João, sua mãe e seu irmão de 9 meses. Achando, equivocadamente, que estavam atirando em bandidos, cravejaram de bala o carro em que estava João, causando a sua morte e ferimentos em sua mãe. O governador disse publicamente que os policiais agiram como dois “débeis mentais”.

Precisamos analisar alguns pontos com relação à expulsão dos policiais da corporação militar. Precisamos avaliar profundamente a relação de causa e efeito que envolve este fato que chocou a opinião pública, fazendo, inclusive, muita gente chorar e se indignar. Antes de registrar minha opinião, quero deixar bem claro que não tenho nenhum parente que é policial e nem amigos que façam parte desta corporação que, ultimamente, tem sido chamada de assassina e corrupta. Muito menos estou ganhando algo para defendê-los. Mas preciso expressar essas considerações que surgiram em minha mente quando soube da atitude da expulsão dos referidos PMs da corporação da Polícia Militar do Rio de Janeiro.

Conforme matéria publicada no JB de 09/07/08, o cabo William de Paula tinha cerca de 10 anos de PM, enquanto que o soldado Elias Gonçalves tinha 3 anos. Apenas o cabo William possui curso de abordagem veicular, ministrado pelo Bope. Já o soldado Elias tinha apenas o curso teórico ministrado no terceiro mês do curso de formação de soldados da Polícia Militar. Percebemos, deste modo, que os erros que a polícia vêm cometendo ultimamente deve-se, em grande parte, ao despreparo de tais oficiais. Segundo Melquisedec Nascimento, tenente da PM e presidente da Associação dos Militares Auxiliares e Especialistas do Rio do Janeiro (AMAE), a falta de verba e investimento vem prejudicando a formação dos oficiais. Hoje um PM é formado em quatro meses e em dois meses já está nas ruas cumprimento estágio. Seria esse tempo suficiente para treinar um oficial e colocá-lo na rua com a missão de defender à população? Logicamente que não!!! Há, na verdade, um grandioso despreparo destes oficiais que têm a tarefa de enfrentar a violência e proteger a população. Sem dúvida, a rotina de um policial é algo altamente extressante, o que exige preparo psicológico e emocional. Sabemos perfeitamente que o treinamento que eles recebem não oferece este tipo preparo. Por este motivo, vemos, em nossas ruas, policiais completamente despreparados, desprovidos de valores, princípios e táticas de abordagem eficazes. Por este motivo, chamá-los de débeis mentais é algo fora de contexto. Entendo, neste sentido, que ao invés de a população referi-se à polícia como assassina e corrupta, deve chamá-la de despreparada e desequilibrada. Despreparo e desequilíbrio proveniente de um Estado que não cumpre devidamente o seu dever de garantidor. Diante desta cena, vemos dois policiais sendo expulsos da corporação, ambos com filhos em idades próximas a de João Roberto, o menino que assassinaram acidentalmente. Chamá-los de débeis mentais é fácil, afinal de contas, a corda sempre acaba arrebentando para o lado mais fraco, não é mesmo?! É mais fácil condenar dois homens que erraram do que assumir o erro de uma instituição repleta de falhas e de erros.
Já que não posso mais orar pelo menino que se foi, oro por sua família que está sofrendo esta lamentável e dolorosa perda. Também oro por esses dois policiais que estão sendo punidos por esse grave erro que cometeram e que carregarão esta culpa e esta acusação para o resto de suas vidas. Oro pelo Rio de Janeiro, cidade maravilhosa, que tem vivenciado cenas de violência cada vez mais absurdas, seja por despreparo da polícia ou por constante ameaça de meliantes.


Ioná Loureiro


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